quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ecos da apresentação

Venho por este meio partilhar aquele que foi o meu dia 27 de Maio, dedicado à apresentação do Livro de Nuno Dala, um dia longo que me encheu as medidas e foi repleto de emoções. O objectivo era fazer uma festa, entre Lisboa e Luanda, para a Joaquina, e apresentar o exemplar número 1, com encadernação de luxo, a ser endereçado ao Presidente da República de Angola. Mas tratava-se também de fazer um balanço da iniciativa editorial de autor, a financiar solidariamente, aspecto a que os media não prestaram muita atenção. Por isso se justifica o presente relato, que obviamente se expõe à crítica.

Começarei por contextualizar os ambiciosos objectivos da campanha de lançamento do Livro, numa edição de autor, e os resultados até agora alcançados, bem como uma antevisão da continuidade do projecto. Depois, numa linha cronológica, contarei como recebemos o jornalista da DW, João Carlos, com quem partilhámos o almoço, bem como o resultado da entrevista no seu canal. Depois contarei como cantámos os parabéns e brindámos à Joaquina, com a equipa da RTP África, apresentando ambos os pontos de vista. Em seguida, darei conta de algumas das pessoas que estiveram presentes, numa animada conversa com William Tonet, sobre a nova geração revú. Depois da despedida do mais velho, passámos para a rua, onde continuámos a discussão sobre o fraccionismo e o 27 de Maio de há 39 anos, contando com a presença do poeta e dramaturgo luso-angolano René Mussenga Vidal.

Conforme já previamente anunciado, o objectivo desta campanha é recolher adiantadamente o pagamento de cerca de 400 exemplares do Livro do Nuno, de forma a permitir pagar uma tiragem de 1000, cujos lucros reverterão para a família do Nuno. Ora para já, estão vendidos apenas 115 exemplares, o que é manifestamente insuficiente. Em relação à continuidade do projecto, recebemos várias sugestões interessantes, entre elas a organização de debates com o propósito expresso de recolha de fundos, o recurso a crowdfunding, a emissão de senhas numeradas, ou a domiciliação da venda antecipada num site português como o Coisas ou o OLX, com pagamento por MultiBanco.

Agradeço desde já a todos/as aqueles/as que contribuíram com as suas ideias, entre eles/as o jornalista Orlando Castro, do Folha 8, a Ana Monteiro, activista da Amnistia Internacional, Dona Manuela Serrano, activista da Casa de Cabinda, e Ana da Silva, professora da Escola Superior de Educação de Santarém. Como promotor do autor, tentarei na medida do possível implementar e viabilizar todas elas, no sentido de podermos aceder o mais rápido possível à edição em papel, reunida a quantia necessária. Aqui neste blog iremos publicando as estatísticas desses recebimentos e o número de exemplares ainda em falta para atingirmos o almejado objectivo.

Alguns jornalistas fizeram chegar queixas à organização, contestando a escolha do espaço, numa zona que consideraram insegura, chegando alguns a afirmar que arrepiaram caminho. No entanto, essa escolha do ghetto não foi inocente. Julgo que nem o jornalista da DW, João Carlos, nem a equipa da RTP, Isabel Rosa e Fernando Nobre, sentiram qualquer constrangimento ou ameaça à sua segurança, bem pelo contrário, fizeram notar a sua empatia pela adequação do espaço alternativo, tendo tecido fartos elogios à gastronomia angolana que se fez representar na festa da Joaquina, bem regada com umas tantas Cucas.

Mas comecemos pelo princípio.

O João Carlos, jornalista são-tomense da DW, pedira-nos para darmos uma entrevista um pouco mais cedo da hora prevista (16h), pois precisava fechar a edição do último dia útil da semana. Combinámos para depois das 13h, e partilhámos uma magnífica muamba de galinha com funge, com o Senhor Eduardo. Após o que mantivemos uma conversa informal, durante a qual o jornalista pôde folhear o exemplar do Livro. Concedemos depois uma entrevista áudio no exterior, a qual passou no jornal da noite desse dia e saiu depois em notícia no portal.

Entretanto, o João Carlos teve de sair para preparar a sua peça rádio-jornalística, e chegou a equipa da RTP, que provocou um misto de espanto e reboliço no bairro. Pelo nosso lado, as coisas não corriam bem, e a pen que compráramos para ter internet no nosso portátil naquela ocasião, recusava-se a funcionar, apesar das insistências de várias pessoas. Entretanto estava a mesa posta para a festa, e chegada a hora marcada para a confraternização via Skype, interagindo com Luanda, onde estava reunida a família do Nuno para a ocasião do aniversário da Joaquina, valeu-nos a jornalista da RTP, Isabel, que logrou fazer a ligação no seu telemóvel.

O momento acabaria por ser o mais emocionante do dia, cantando os parabéns à Joaquina, no dia do seu primeiro aniversário, em sincronia entre Portugal e Angola, e passou na primeira edição do Repórter África de segunda-feira dia 30 de Maio, a partir dos 11 minutos. Mostramos também foto da equipa da RTP, flagrada pelo pleno directo, em Luanda, bem como foto da esposa do Nuno, a Raquel, e da aniversariante, a filha Joaquina, trajadas a rigor.

Fizemos depois um pequeno lanche, com deliciosos petiscos angolanos, que mereceram grandes e rasgados elogios à «mãe» África, que fizemos acompanhar por umas Cucas em lata. Passámos depois para o exterior, onde dei a entrevista à RTP África, apresentando o livro e realçando o seu interesse no actual contexto político. Com os jovens injustamente condenados por estarem a ler um livro (como é possível prender alguém por ler um livro? pois se por vezes nem concordamos com os autores!), tal como Marcos Mavungo o fôra por estar a pensar em organizar uma manifestação, pretende-se com esta atitude mostrar que os jovens não só liam obras estrangeiras, mas também escreviam, assumiam, sistematizavam, num pensamento próprio, as suas ideias em gestação, numa fértil reflexão política, assente numa cidadania consciente e num consistente patriotismo.

Pressionado pela queda da cotação do petróleo, o regime deu mostras de endurecimento, deixando cair as máscaras da democracia, assumindo em definitivo o seu carácter mais que autoritário, ou seja, verdadeiramente totalitário, como se constatou com o caso Kalupeteka, curiosamente o Presidente da República nomeado na famosa lista que deu origem a uma peça de acusação, também ele preso de consciência, como os/as 17. No entanto, são prisões que enfraquecem manifestamente o sistema ditatorial, bodes expiatórios que apenas servem para caricaturar as fraquezas e fragilidades do regime, inteiramente votado a um sistema de amplificação de um poder pessoal megalómano, mas sem qualquer consistência, como o vem demonstrando a realidade e fica bem patente no Livro do Nuno. A sociedade angolana e global evoluíram imenso, e não teria hoje qualquer cabimento um novo 27 de Maio, para impedir a emancipação política e cidadã ou sequer o pensamento crítico.

Depois da saída da equipa da RTP, chegou William Tonet, com quem mantivemos uma animada conversa sobre a nova geração revú. Falávamos da resistência mental à ditadura, e dos grandes líderes africanistas, de Nito Alves e do 27 de Maio de 1977, quando o MPLA exterminou o pensamento crítico. Nesse contexto, num impulso de simpatia para com a luta revú, comparei o novo Nito Alves e Dago a Nelson Mandela, o que provocou a reacção de William Tonet, que considerou tal comparação desproporcionada. No entanto, se bem que salvaguardadas as devidas distâncias, continuo a pensar que estes jovens são uns «monstros» de dignidade, heróis da liberdade representando todo um povo, que jaz agrilhoado sob o jugo do medo imposto pelo sistema de pensamento único, e privado dos seus mais elementares direitos à liberdade, de pensamento, de discussão, de expressão, para já não falar do direito à manifestação, formalmente garantido pela constituição em vigor.

Finalmente, com a saída de William Tonet, a conversa saiu para a rua, onde continuou animadamente. Alguns mais velhos falaram do 27 de Maio, do medo, dos assassinatos, para espanto de alguns mais novos que se iam juntando à conversa, alguns dos quais manifestaram surpresa perante o número de vítimas de largas dezenas de milhar. Um dos jovens que participaram dessa interessante conversa ao pôr-do-sol foi René Mussenga Vidal, poeta e dramaturgo angolano que assume uma curiosa identidade lusófona, a qual nos deu o privilégio de partilhar connosco (e já havia partilhado em programa do RTP África, na 2da parte do Bem Vindos de 3 de Março deste ano, aos minutos 19'40 e 30'50), tal como o seu livro Ecos do Silêncio, do qual nos recitou uma poesia.

Permito-me um pequeno apontamento de poesia, invocando a propósito o Fernando Guelengue, com o seu poema Ecos de Revolta,


Da cubata demolida
O som de trombeta
Na riqueza mal distribuída
Na tinta da caneta

Bum, bum bum
A revolta ascenderá 

Da opressão desmedida 
Cidade militarizada 
Muralhas entre povos 
Juventude desvalorizada 

Bum, bum bum 
A revolta ascenderá 

Cantos de revolta
Noites invisíveis
Planta irrigada
No sol da esperança

Bum, bum bum 
A revolta ascenderá 

Crianças exploradas 
Prostituição avançada 
Justiça das letras 
Sangue nas canetas 

Bum, bum bum 
A revolta ascenderá 

Convicções desrespeitadas 
Liberdades encravadas 
Monopólio desmedido! 
Manifestantes fodidos

Bum, bum bum
A revolta chegará 

Luanda, 26 de Junho de 2013

Mas não resisto a transcrever igualmente o René Vidal, em Ecos do Silêncio poema do livro homónimo:

De súbito, Alcácer Quibir!
No esplendor da sua juventude,
O iluminado!
E se concretize o encoberto
Renascendo o Quinto Império!

Mas essa voz é negra!...
É um filho do velho embondeiro!

_Quem és tu? Que cantas por todos?!

_Criar nas mentes inertes,
a transformação do pensamento?
a consciência do ser?
a força da mudança?

_Quem és tu!?
Que lutas contra gigantes,
que sobrevives às mandíbulas das hienas.

_Bravo herói destemido!
Pois que todos te sigam!
(dita o sagrado, que David venceu Golias
e a auréola floresceu),

_És tu o enviado?
Por quem? Para quê?
E essas cantigas que cantas
Com ricas melodias...

_É o que te vai na alma?
É a tua verdade?
_Então canta...
(...)

e ainda René Vidal, no mesmo livro, em Ciclo Vicioso

Sangram, sangram novamente 
como sangraram meus antepassados 
com chicote de algodão, de café, de cana-de-açúcar!...

Agora sangram-nos 
com chicote moderno 
mais sofisticado e letal 
Dilacerando sem piedade 
o dorso do nosso corpo inerme 

Esse chicote que traz na extremidade 
o veneno da hipocrisia! 
Esse veneno que hipnotiza os esclarecidos
enquanto os ainda mais esclarecidos
vociferam cânticos de alegria! 

Oh, caminhos distantes...
Trilhados por vós, ó Cabral, ó Neto, ó Machel, ó N'Krumá 
Ó Nierere ó Keniata ó Senghor, ó Kaunda 
Ó Boani, ó Madiba, ó Lumumba! [acrescentaria eu, ó Sankara!] 

Esses caminhos que vós abristes 
Nas íngremes fendas 
com enxadas enferrujadas 
Catanas sem gume 
Charruas puxadas a suor humano

...E inacreditavelmente, 
as fendas tornaram-se ainda mais íngremes 
O capim cresceu 
e se entrelaçou nos caminhos. 

Agora, e como antes 
Sangram, sangram novamente 
Pois esse corpo cor de sofrimento 
Habituou-se a dar sangue seu!

Para terminar, gostaria de passar um excerto do texto que Fernando Guelengue escreveu na sequência da prisão dos jovens activistas, quase em jeito de manifesto: 

A grande confusão reside no fato de se pensar que apenas esses 15 jovens querem a mudança em Angola. Somos muitos! Somos jovens que nascemos depois da independência e nem temos ainda idade própria para concorrer em eleições para presidente da República. Não somos analfabetos, não. Somos jornalistas, artistas, advogados, psicólogos, sociólogos, arquitetos, mecânicos, carpinteiros, pedreiros, marceneiros, sapateiros, taxistas, lutadores, eletricistas, militares, zungueiras, funcionários públicos, engenheiros, trabalhadores, desempregados, etc. Não queremos formar partido algum porque pensamos, discutimos e aprovamos que não é com PARTIDOS que resolvemos os problemas de uma coletividade que vem sofrendo de ano em ano devido à má gestão do erário púbico. Queremos apenas falar o que pensamos! Queremos LIBERDADE de consciência, de pensamento, de reflexão, de reunião, de manifestação, de palestrar, de estudar, de debater os problemas que temos hoje. Então, nos perguntamos como temos que nos posicionar. A resposta é simples. Esta se chama a GERAÇÃO DA MUDANÇA. É tempo de dizer BASTA!

Adira à campanha para publicação do Livro do Nuno. Já encomendou o seu?

José Fernando Gomes

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Convite - Aniversário da Joaquina

O Livro do Nuno, com o seu projecto editorial alternativo, será apresentado amanhã, sexta-feira dia 27 de Maio, a partir das 16h, no Café Hollywood, na Rua São Pedro Mártir, número 64, à Mouraria, em Lisboa.


Convidam-se todos/as os/as activistas e simpatizantes da causa revú, a participarem na sessão de apresentação, durante a qual cantaremos os parabéns à pequena Joaquina, filha do Nuno, que cumpre o seu primeiro aniversário.

Para mais informações, contactar José Fernando 966 300 727.

domingo, 15 de maio de 2016

Prólogo, por João Leonardo de Sousa


O texto que passamos a apresentar, havia sido escrito bem antes de 20 de Junho do ano passado, a título de Prólogo. Estava igualmente previsto um Prefácio, que o Professor Domingos da Cruz estava a escrever, mas que se perdeu com o processo contra os activistas. O João, entretanto, teve de sair de Angola. Mas já se disponibilizou para escrever um novo Prefácio, descrevendo brevemente aquilo que se passou no último ano, com uma visibilidade acrescida em termos internacionais para a luta do Movimento Revolucionário, após a prisão arbitrária dos quinze mais duas.

O livro que hoje nos convoca à análise, “O PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO”, de Nuno Álvaro Dala, traz uma suficiente revisão histórica dos factos sucedidos em Angola enfatizando particularmente o período de 2011 até à data presente [Junho de 2015], articulando-os na conjuntura de uma visão que os perspectiva não de forma isolada, mas como um processo de acontecimentos bem mais amplo e complexo. Na verdade, o Nuno, neste seu livro, traz à tona entre outros assuntos, uma cronologia dos principais factos da história recente de Angola para nos fazer entender que tanto as eleições de 1992, 2008 e 2012 assim como a aprovação da actual Constituição em 2010 não destruíram a natureza autoritária do regime político angolano, antes e pelo contrário, estes acontecimentos somente modernizaram e sofisticaram as formas autocráticas de exercício do poder.

O texto transcende qualquer proposta ideológica partidária ou eleitoral, esse texto, na voz do seu autor, é na verdade uma obra colectiva das/os angolanas/os e assim terá que continuar a sê-lo. O texto, contém as memórias colectivas de momentos muito importantes para as/os angolanas/os, assume-se como o cânone da ruptura necessária entre as gerações dentro do processo de democratização, se considerarmos os “protagonismos” e atropelos que a história de Angola nos brinda, ou seja, com este texto temos em nossas mãos o panfleto que representa o apelo geral da não continuidade no poder da geração dos mais velhos de 1960 que actualmente perpetua esse ciclo político iniciado no quadro da luta para a independência. Neste contexto, o que podem(os) fazer as/os indignadas/os de hoje para impedir os retrocessos e os excessos que caracterizam o autoritarismo presente neste regime politico angolano? Sendo assim, como reactivar a transição uma vez que estão até identificados os seus elementos de estancamento?

E a mensagem por excelência que este livro nos traz é que, por ser tão importante, não se deve deixar a democracia nas mãos dos políticos, posto que, se os nossos “prometheus” falharam, nós temos, sim, o direito a contar com uma nova espécie de mulheres e de homens capazes de objectivar a mudança, por estarem livres da miopia provinda daquela torpe e frustrada visão segundo a qual para abordar os assuntos relacionados com o continente africano ou com o país, há que possuir altos estudos, doutoramentos ou grande conhecimento do mundo da diplomacia governamental, pois pelo PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO”, nos damos conta que não. No entanto, promovamos sim o Autor pelo seu trabalho e, do mesmo modo, toda essa juventude mundial e particularmente a angolana, da qual também faço parte dando lugar merecido na sociedade, desde às universidades, aos meios de comunicação social e outras organizações sociais pré-existentes,  considerando a nova época de novos valores que se prepara para um novo país.

O Nuno Álvaro Dala, “os Revús” e todos os que se identifiquem, tanto na obra “O PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO” como na causa que defendem, são a primeira pedra do grande edifício de um grandioso “sonho democrático”. Porém recordemos ainda que, como angolanos, confundir política com fanatismo ou proselitismo político nos faz cometer muitos erros, até porque somos aquele país cuja realidade por anos a fio educou os jovens com o jargão “Xé menino, não fala política” e o resultado disso é que qualquer jovem interessado e comprometido seriamente com questões políticas ou reformas sociopolíticas passa a ser um rejeitado social, um frustrado, ou até maluco.

Finalmente, como vincular este movimento sem precedentes, sem líderes, sem hierarquias, mas com rostos visíveis e bem conhecidos na sociedade angolana, dentro do processo de transformação e renovação sociopolítica de Angola? Toda e qualquer tentativa de resposta a esta pergunta passa pelo caminho que nos leva ao entendimento, o qual num país onde não há grande tradição nem fortes antecedentes de organização social, requer que sejamos nós mesmos os precursores, sem poupar esforços nem recursos, do acto de motivação no uso de novas formas específicas de organização social como a que especificamente Nuno Álvaro Dala traz à ribalta no relato do seu livro, já que também é correcto identificar as organizações sociais como sujeitos de mudanças, porque oxigenam a sociedade tornando visíveis novos valores na agenda do país e da sociedade em geral.

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Livro do Nuno

Quando foi preso, Nuno Dala (professor universitário e um dos activistas políticos presos em Angola), estava a ultimar um livro intitulado «O Pensamento Político dos Jovens Revús», em cujas linhas vertera a experiência acumulada, ao lado de outros companheiros e companheiras, na luta contra o regime de José Eduardo dos Santos e a favor da instauração em Angola de uma verdadeira democracia e de um Estado de Direito. Um livro muito bem escrito, que contextualiza o acto gerador (a imolação pelo fogo do jovem tunisino que deu origem à Primavera Árabe), as primeiras e ainda incipientes acções, a coragem e perseverança demonstradas pelos jovens frente às maiores adversidades, bem como o seu código de conduta muito próprio, num esboço ideológico altamente consistente do papel do activismo cívico e político no desenvolvimento e promoção da democracia participativa.

No entanto, assim o não entendeu o regime. Num momento difícil, quando tudo aconselhava a prudência, em vez de cooptar estes jovens promissores de espírito crítico e salutar independência, num esforço de renovação das suas anquilosadas fileiras, José Eduardo dos Santos, com a corda no pescoço, preferiu o confronto, diabolizando os patriotas e ousando prendê-los, acabando por lhes atribuir uma importância política e projecção mediática, da qual talvez não dispusessem ainda. O pretexto esfarrapado para condenar os jovens acabou por ser o de associação criminosa, classificando como crime o facto de os jovens estarem a ler um livro (por sinal, importado). O Nuno antecipou a intolerância e autismo do regime, que se viria a traduzir na condenação a uma pena longa, entrando em Greve da Fome ainda antes da leitura da sentença, reclamando o seu dinheiro e meios de pagamento, face à extorsão institucionalizada de que foi vítima. Dinheiro do qual sentiu a falta no breve período que passou em prisão domiciliária. Que pai aceitaria, sem se revoltar, ver a filha passar por necessidades, porque os agentes de um Estado, pretensamente de Direito, não se limitaram a condená-lo injustamente, mas quiseram ainda feri-lo intimamente, atingindo a família?

O Nuno deixou instruções para publicação do seu Livro, independentemente das circunstâncias. É uma Obra sua que passa agora a ser de todos os cidadãos livres. Feita com amor, como a sua filha, ou a sua participação entusiasta no Movimento Revú. É esse livro, com cerca de 280 páginas, que será objecto de uma primeira edição de autor, de 1000 exemplares, com data oficial de lançamento a 27 de Maio, dia em que a Joaquina fará um ano de vida. O preço de capa da edição de autor, em venda directa, será módico, para não dizer atractivo. Do Nuno, dependem directamente várias pessoas, incluindo a sua noiva e a sua filha, que neste momento estão numa situação financeira aflitiva. Nesse sentido, apela-se encarecidamente a todos e todas quantos, em Angola, queiram desde já reservar o Livro do Nuno, pelo preço muito especial de 2500 Kwanzas durante um período muito limitado (a hiper-inflacção tem destas coisas), façam a pré-inscrição junto do Fernando Guelengue, efectuando o pagamento directamente para a conta da noiva do Nuno, abaixo mencionada. Serão depois por essa via informados onde poderão recolher o seu exemplar, em Luanda.

Raquel Chiteculo (Esposa do Nuno) IBAN - AO 06005100001815310614161 Banco BIC

Fernando Guelengue Tel. +244 996 519 516 ou através do email fgangola@gmail.com.

O Nuno não reclama a vossa caridade. Eventualmente, invoca a vossa solidariedade, mas sobretudo, solicita o vosso interesse pela causa, pela sua conduta exemplar. Um prémio pelo seu esforço intelectual, pelo seu sacrifício físico, em nome do futuro de todos e todas as angolanas. Pede uma atitude. Que não se deixem intimidar por possuir um Livro seu nas mãos. Que libertem as mentes que o ditador quer tolher. Este livro, ao contrário daquele que motivou a sua prisão, é inteiramente nacional. Vai vender-se em Portugal (e pelo mundo fora, poderá ser adquirido pelo Correio) e gerar divisas para Angola. Neste momento, deve ser das poucas coisas, com MCK, que Angola exporta, pelo que seria claramente anti-pedagógico tentar contrariar tal desempenho de diversificação económica. O regime que, sem Tribunal de Inquisição, condenou sumariamente à morte centenas de fiéis heterodoxos, será suficientemente aberrante para criar um Index de livros proibidos, a inaugurar pelo Livro do Nuno?

Por delegação do Nuno Dala, através de procuração passada na prisão, assumi a responsabilidade da edição do seu livro original em Portugal. Após constatação do desinteresse das editoras, optámos por uma edição de autor, pedindo a solidariedade das pessoas no sentido de procederem ao pagamento antecipado, condição na qual conseguimos obter um preço bastante mais em conta. O objectivo é vender, até ao dia 26 de Maio, cerca de 400 exemplares, de forma a pagar à gráfica, a pronto, a totalidade da edição, obtendo o maior desconto possível. Não é apenas um gesto de solidariedade, mas também um acto de reposição de justiça, contribuir com 8 ou com 4 euros, respectivamente, para a edição em papel ou para a versão electrónica. Perca um pouco do seu tempo para fazer o registo no site de vendas Delcampe (é fácil) da sua morada, pode pagar de várias formas, desde VISA, Paypal, cheque, transferência multibanco ou mesmo em dinheiro. Se precisar de ajuda ou alguma informação suplementar, não hesite em contactar:

José Fernando Tel. +351 911 898 748 ou através do email jose.fernando.gomes@gmail.com

Não, não é uma esmola. É uma aposta no futuro de Angola!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Comunicado de Imprensa

O livro que vai ser lançado no dia 27 de Maio em Lisboa, "O Pensamento Politico dos Jovens Revús - Discurso e Acção" é a primeira obra do pesquisador e docente universitário Nuno Álvaro Dala, um dos 17 jovens condenado sob acusação de actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores (por se reunirem para discutirem sobre lutas não-violentas em Angola). 

Resultou de um artigo publicado num portal angolano em 2014, mas pode vir a transformar-se num manual de culto e no caminho ideal para uma melhor compreensão do desejo dos activistas em relação à política do país e do mundo. É composto por sete capítulos, onde se pode encontrar imagens que ilustram o pavor e maus-tratos infligidos nas manifestações realizadas em Angola e das perseguições daqueles que pensam diferente, enfatizando claramente os acontecimentos de 2011 até à presente data (considerando que o autor terminou a pesquisa quando entrou para a prisão). A campanha para a compra antecipada do livro garante o sustento do projecto que apoiará a filha do autor, nesta primeira edição, e os demais familiares de outros activistas nas demais edições, sendo que muitos deles eram o garante do suporte financeiro das respectivas famílias. Para tal, o leitor que se encontra em Angola deverá disponibilizar o valor de capa na conta bancária de Raquel Chiteculo, disponível na página da rede social Facebook do promotor.

Trata-se de uma edição do autor, a qual ao ser adquirida de forma antecipada (para suportar a produção gráfica) por pagamento electrónico em todas as partes do mundo (e em Angola por depósito ou transferência bancária na conta da esposa do Nuno), permite obter um melhor preço de capa que o convencional (que implicaria a sua distribuição pelas livrarias e pagar a toda a fileira editorial). Aqui iremos apresentando alguns excertos para despertar a curiosidade, e publicando as estatísticas das vendas.

Características do livro:
- Edição de Autor
- Tiragem: 1000 exemplares
- Sintra, 2016
- ISBN978-989-20-6445-1;
- [Título: O Pensamento Político dos Jovens Revús];
- [Autor: Nuno Álvaro Dala];
- Formato A5;
- 280 páginas (papel IOR 90g)
- Capa (Cartolina SimWhite 240g, plastificada com brilho)

Preço em Angola: 
Até ao dia 26 de Maio: 2.500,00 Kzs
De 27 de Maio em diante: 5.000,00 Kzs

Para informação, contactar:
Assessor de Imprensa e Promotor: Fernando Guelengue
+244 996 519 516 ou através do email fgangola@gmail.com.

Lançamento do Livro dia 27 de Maio


O dia 27 de Maio carrega vários significados especiais. A pequena Joaquina completará um ano de idade, longe do pai. Em Lisboa, em local a anunciar oportunamente aqui, será lançado o livro do Nuno, que este se preparava para publicar, quando foi preso, a 20 de Junho do ano passado, precisamente por estar a ler um livro.

Inteiramente original e dedicado a essa curiosa irmandade que é o movimento revú, traduz na perfeição a estranha força que alimenta estes jovens activistas, na sua luta desigual contra um regime totalitário e omnipotente, numa batalha escatológica pela salvação da alma angolana. Apoie, pagando previamente livro por apenas 8 euros ou o ebook por apenas 4 euros. Visite a loja on-line.

Oferta de Lançamento

A história do Nuno dispensa apresentações. A sua família, que dependia inteiramente dele, está injustamente a passar dificuldades. O Nuno não pede uma esmola. Pede que invistam em cultura. Que se interessem por esta luta justa. Escolhemos um processo de distribuição alternativo, que nos permitirá não só maximizar o apoio à família, com a venda de 200 exemplares para Angola, ao preço de 2500 Kwanzas (o que deverá permitir o encaixe de meio milhão, na conta bancária da esposa do Nuno, para atender às exigências mais prementes), como minimizar o seu custo para leitores/as benfeitores/as. Os restantes 800 exemplares estarão à venda exclusivamente através da internet, no site Delcampe, onde é fácil proceder ao registo on-line da morada, sendo remetidos com base nos Correios portugueses. Adira à pré-compra, para beneficiar já deste preço. Esperamos gerar uma onda de solidariedade que nos obrigue a uma 2ª Edição para breve. Encomende já o seu!