domingo, 15 de maio de 2016

Prólogo, por João Leonardo de Sousa


O texto que passamos a apresentar, havia sido escrito bem antes de 20 de Junho do ano passado, a título de Prólogo. Estava igualmente previsto um Prefácio, que o Professor Domingos da Cruz estava a escrever, mas que se perdeu com o processo contra os activistas. O João, entretanto, teve de sair de Angola. Mas já se disponibilizou para escrever um novo Prefácio, descrevendo brevemente aquilo que se passou no último ano, com uma visibilidade acrescida em termos internacionais para a luta do Movimento Revolucionário, após a prisão arbitrária dos quinze mais duas.

O livro que hoje nos convoca à análise, “O PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO”, de Nuno Álvaro Dala, traz uma suficiente revisão histórica dos factos sucedidos em Angola enfatizando particularmente o período de 2011 até à data presente [Junho de 2015], articulando-os na conjuntura de uma visão que os perspectiva não de forma isolada, mas como um processo de acontecimentos bem mais amplo e complexo. Na verdade, o Nuno, neste seu livro, traz à tona entre outros assuntos, uma cronologia dos principais factos da história recente de Angola para nos fazer entender que tanto as eleições de 1992, 2008 e 2012 assim como a aprovação da actual Constituição em 2010 não destruíram a natureza autoritária do regime político angolano, antes e pelo contrário, estes acontecimentos somente modernizaram e sofisticaram as formas autocráticas de exercício do poder.

O texto transcende qualquer proposta ideológica partidária ou eleitoral, esse texto, na voz do seu autor, é na verdade uma obra colectiva das/os angolanas/os e assim terá que continuar a sê-lo. O texto, contém as memórias colectivas de momentos muito importantes para as/os angolanas/os, assume-se como o cânone da ruptura necessária entre as gerações dentro do processo de democratização, se considerarmos os “protagonismos” e atropelos que a história de Angola nos brinda, ou seja, com este texto temos em nossas mãos o panfleto que representa o apelo geral da não continuidade no poder da geração dos mais velhos de 1960 que actualmente perpetua esse ciclo político iniciado no quadro da luta para a independência. Neste contexto, o que podem(os) fazer as/os indignadas/os de hoje para impedir os retrocessos e os excessos que caracterizam o autoritarismo presente neste regime politico angolano? Sendo assim, como reactivar a transição uma vez que estão até identificados os seus elementos de estancamento?

E a mensagem por excelência que este livro nos traz é que, por ser tão importante, não se deve deixar a democracia nas mãos dos políticos, posto que, se os nossos “prometheus” falharam, nós temos, sim, o direito a contar com uma nova espécie de mulheres e de homens capazes de objectivar a mudança, por estarem livres da miopia provinda daquela torpe e frustrada visão segundo a qual para abordar os assuntos relacionados com o continente africano ou com o país, há que possuir altos estudos, doutoramentos ou grande conhecimento do mundo da diplomacia governamental, pois pelo PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO”, nos damos conta que não. No entanto, promovamos sim o Autor pelo seu trabalho e, do mesmo modo, toda essa juventude mundial e particularmente a angolana, da qual também faço parte dando lugar merecido na sociedade, desde às universidades, aos meios de comunicação social e outras organizações sociais pré-existentes,  considerando a nova época de novos valores que se prepara para um novo país.

O Nuno Álvaro Dala, “os Revús” e todos os que se identifiquem, tanto na obra “O PENSAMENTO POLITICO DOS JOVENS REVUS: DISCURSO E ACÇÃO” como na causa que defendem, são a primeira pedra do grande edifício de um grandioso “sonho democrático”. Porém recordemos ainda que, como angolanos, confundir política com fanatismo ou proselitismo político nos faz cometer muitos erros, até porque somos aquele país cuja realidade por anos a fio educou os jovens com o jargão “Xé menino, não fala política” e o resultado disso é que qualquer jovem interessado e comprometido seriamente com questões políticas ou reformas sociopolíticas passa a ser um rejeitado social, um frustrado, ou até maluco.

Finalmente, como vincular este movimento sem precedentes, sem líderes, sem hierarquias, mas com rostos visíveis e bem conhecidos na sociedade angolana, dentro do processo de transformação e renovação sociopolítica de Angola? Toda e qualquer tentativa de resposta a esta pergunta passa pelo caminho que nos leva ao entendimento, o qual num país onde não há grande tradição nem fortes antecedentes de organização social, requer que sejamos nós mesmos os precursores, sem poupar esforços nem recursos, do acto de motivação no uso de novas formas específicas de organização social como a que especificamente Nuno Álvaro Dala traz à ribalta no relato do seu livro, já que também é correcto identificar as organizações sociais como sujeitos de mudanças, porque oxigenam a sociedade tornando visíveis novos valores na agenda do país e da sociedade em geral.

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