terça-feira, 10 de maio de 2016

O Livro do Nuno

Quando foi preso, Nuno Dala (professor universitário e um dos activistas políticos presos em Angola), estava a ultimar um livro intitulado «O Pensamento Político dos Jovens Revús», em cujas linhas vertera a experiência acumulada, ao lado de outros companheiros e companheiras, na luta contra o regime de José Eduardo dos Santos e a favor da instauração em Angola de uma verdadeira democracia e de um Estado de Direito. Um livro muito bem escrito, que contextualiza o acto gerador (a imolação pelo fogo do jovem tunisino que deu origem à Primavera Árabe), as primeiras e ainda incipientes acções, a coragem e perseverança demonstradas pelos jovens frente às maiores adversidades, bem como o seu código de conduta muito próprio, num esboço ideológico altamente consistente do papel do activismo cívico e político no desenvolvimento e promoção da democracia participativa.

No entanto, assim o não entendeu o regime. Num momento difícil, quando tudo aconselhava a prudência, em vez de cooptar estes jovens promissores de espírito crítico e salutar independência, num esforço de renovação das suas anquilosadas fileiras, José Eduardo dos Santos, com a corda no pescoço, preferiu o confronto, diabolizando os patriotas e ousando prendê-los, acabando por lhes atribuir uma importância política e projecção mediática, da qual talvez não dispusessem ainda. O pretexto esfarrapado para condenar os jovens acabou por ser o de associação criminosa, classificando como crime o facto de os jovens estarem a ler um livro (por sinal, importado). O Nuno antecipou a intolerância e autismo do regime, que se viria a traduzir na condenação a uma pena longa, entrando em Greve da Fome ainda antes da leitura da sentença, reclamando o seu dinheiro e meios de pagamento, face à extorsão institucionalizada de que foi vítima. Dinheiro do qual sentiu a falta no breve período que passou em prisão domiciliária. Que pai aceitaria, sem se revoltar, ver a filha passar por necessidades, porque os agentes de um Estado, pretensamente de Direito, não se limitaram a condená-lo injustamente, mas quiseram ainda feri-lo intimamente, atingindo a família?

O Nuno deixou instruções para publicação do seu Livro, independentemente das circunstâncias. É uma Obra sua que passa agora a ser de todos os cidadãos livres. Feita com amor, como a sua filha, ou a sua participação entusiasta no Movimento Revú. É esse livro, com cerca de 280 páginas, que será objecto de uma primeira edição de autor, de 1000 exemplares, com data oficial de lançamento a 27 de Maio, dia em que a Joaquina fará um ano de vida. O preço de capa da edição de autor, em venda directa, será módico, para não dizer atractivo. Do Nuno, dependem directamente várias pessoas, incluindo a sua noiva e a sua filha, que neste momento estão numa situação financeira aflitiva. Nesse sentido, apela-se encarecidamente a todos e todas quantos, em Angola, queiram desde já reservar o Livro do Nuno, pelo preço muito especial de 2500 Kwanzas durante um período muito limitado (a hiper-inflacção tem destas coisas), façam a pré-inscrição junto do Fernando Guelengue, efectuando o pagamento directamente para a conta da noiva do Nuno, abaixo mencionada. Serão depois por essa via informados onde poderão recolher o seu exemplar, em Luanda.

Raquel Chiteculo (Esposa do Nuno) IBAN - AO 06005100001815310614161 Banco BIC

Fernando Guelengue Tel. +244 996 519 516 ou através do email fgangola@gmail.com.

O Nuno não reclama a vossa caridade. Eventualmente, invoca a vossa solidariedade, mas sobretudo, solicita o vosso interesse pela causa, pela sua conduta exemplar. Um prémio pelo seu esforço intelectual, pelo seu sacrifício físico, em nome do futuro de todos e todas as angolanas. Pede uma atitude. Que não se deixem intimidar por possuir um Livro seu nas mãos. Que libertem as mentes que o ditador quer tolher. Este livro, ao contrário daquele que motivou a sua prisão, é inteiramente nacional. Vai vender-se em Portugal (e pelo mundo fora, poderá ser adquirido pelo Correio) e gerar divisas para Angola. Neste momento, deve ser das poucas coisas, com MCK, que Angola exporta, pelo que seria claramente anti-pedagógico tentar contrariar tal desempenho de diversificação económica. O regime que, sem Tribunal de Inquisição, condenou sumariamente à morte centenas de fiéis heterodoxos, será suficientemente aberrante para criar um Index de livros proibidos, a inaugurar pelo Livro do Nuno?

Por delegação do Nuno Dala, através de procuração passada na prisão, assumi a responsabilidade da edição do seu livro original em Portugal. Após constatação do desinteresse das editoras, optámos por uma edição de autor, pedindo a solidariedade das pessoas no sentido de procederem ao pagamento antecipado, condição na qual conseguimos obter um preço bastante mais em conta. O objectivo é vender, até ao dia 26 de Maio, cerca de 400 exemplares, de forma a pagar à gráfica, a pronto, a totalidade da edição, obtendo o maior desconto possível. Não é apenas um gesto de solidariedade, mas também um acto de reposição de justiça, contribuir com 8 ou com 4 euros, respectivamente, para a edição em papel ou para a versão electrónica. Perca um pouco do seu tempo para fazer o registo no site de vendas Delcampe (é fácil) da sua morada, pode pagar de várias formas, desde VISA, Paypal, cheque, transferência multibanco ou mesmo em dinheiro. Se precisar de ajuda ou alguma informação suplementar, não hesite em contactar:

José Fernando Tel. +351 911 898 748 ou através do email jose.fernando.gomes@gmail.com

Não, não é uma esmola. É uma aposta no futuro de Angola!

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